sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ESTREIA-'Rock Brasília - Era de Ouro' revê cena musical de 1980

SÃO PAULO (Reuters) - 'Ninguém fica impunemente no mesmo lugar', disse o cineasta Vladimir Carvalho, no Festival de Paulínia, em julho passado, de onde seu 'Rock Brasília - Era de Ouro' saiu consagrado com o prêmio de melhor documentário. É interessante como a declaração do diretor sugere que as bandas de rock que surgiram no cenário retratado -- entre elas, Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude -- são frutos do local.


Aos poucos, o documentário de Carvalho, em lançamento nacional em 58 cópias, monta um panorama de uma época e um lugar que, embora com localização específica no tempo e no espaço, perdura no país inteiro até hoje. Afinal, a pergunta 'Que País é Esse?', na voz de Renato Russo, continua atual há mais de duas décadas.

O documentário é o primeiro de uma leva de filmes ligados ao músico (que morreu há 15 anos) e sua obra, que devem chegar aos cinemas no próximo ano. Antonio Carlos da Fontoura ('Gatão da Meia-Idade') prepara a cinebiografia do começo da carreira do músico em 'Somos Tão Jovens' e René Belmonte dirige a adaptação para o cinema da famosa saga musical 'Faroeste Caboclo'.
Carvalho, que já foi professor na Universidade de Brasília, tem a curiosidade aguçada e o jeito para conversa. Numa entrevista feita com Renato Russo em 1988 -- e que até agora estava inédita -- o cineasta e o músico falam de vários assuntos. A gravação foi feita na véspera de um show histórico no estádio Mané Garrincha, que acabou num quebra-quebra documentado no filme.
Entrevistas com músicos (Phillipe Seabra, Bi Ribeiro, Dinho Ouro Preto, Dado Villa-Lobos, entre outros), pais e parentes deles (como a mãe e irmã de Renato, Carminha e Carmem Tereza) são reveladoras e até nostálgicas.


Se para uma geração, 'Rock Brasília - Era de Ouro' é uma viagem ao passado, a lembrança da juventude, para os mais jovens, é a descoberta de uma época. A entrevista de Renato Russo é uma espécie de fio condutor do documentário, mas é a conversa com Briquet de Lemos, pai de Flávio e Fê Lemos (do Capital Inicial), que joga mais luz sobre a formação das bandas e seus músicos.
Junto com 'Conterrâneos Velhos de Guerra' (1991) e 'Barra 68' (2000), 'Rock Brasília - Era de Ouro' forma uma trilogia sobre a formação história, política e cultural da capital federal.
Conhecido também por filmes como 'O País de São Saruê' e mais recentemente 'O Engenho de Zé Lins', o cineasta partilha daquele método de Eduardo Coutinho, no qual se ouve com generosidade e curiosidade o que seus entrevistados têm a dizer. O resultado é um amplo painel sobre a cultura nacional que fala do passado num diálogo claro com o presente.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ex-integrantes da Legião Urbana se emocionam ao lembrar de Renato Russo

REPORTAGEM DO SITE SRZD
Thaiane Silveira | 11/10/2011 23h29
Foto: Thaiane Silveira - SRZDNa noite desta terça-feira, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Philippe Seabra se reuniram com Vladimir Carvalho, diretor do longa "Rock Brasília, era de ouro" em uma mesa redonda na qual o SRZD estava presente. Os músicos chegaram brincalhões e comendo pipoca.
Perguntados sobre a importância do documentário que conta a história das maiores bandas brasilienses dos anos 1980, Dado Villa-Lobos, ex-guitarrista da Legião Urbana diz que "é um registro de uma história que aconteceu há 30 anos", e lembra que Brasília ainda estava em formação, "resultado de tudo isso foram essas bandas todas que protagonizaram em algum momento a cultura musical brasileira e esse registro veio mostrar como tudo aconteceu", completa.
Já Philippe Seabra, o mais jovem da então "tchurma" de Renato Russo, lembra com animação que o filme foi premiado como melhor documentário no Festival de Paulínia e considera "uma história de superação". "Não existia nada, não existia mercado de música no Brasil, não tinha perspectiva, cultura, e olha o que essa galera de Brasília conseguiu fazer. É uma coisa que ressoa até hoje", lembra o guitarrista da Plebe Rude.Foto: Thaiane Silveira - SRZD
Para o, na época baterista da Legião Urbana, Marcelo Bonfá, o que as bandas de Brasília viveram foi muito intenso e "parecia um filme", o que inevitavelmente aconteceu.
Apesar do clima animado os ex-integrantes da Legião Urbana se mostraram visivelmente emocionados ao comentar sobre o ex-companheiro Renato Russo, morto há 15 anos. "Mas claramente se ele não tivesse partido estaria aqui no nosso lugar dando essa entrevista e falando com conhecimento de causa o que foi aquilo que aconteceu naquele momento em Brasília", afirmou Dado Villa-Lobos.
Apesar de tocados e conscientes de que o então líder da Legião Urbana se entregou a AIDS, Bonfá conta que eles continuam lutando, mesmo que Renato não tenha vencido.
Para os roqueiros de Brasília, sua música era "uma maneira de lutar" contra "o grande ‘não’ de Brasília, conta Seabra lembrando o período de repressão pelo qual o país passava. "Apanhava de polícia, apanhava de playboy", lembra o músico.
Divertido, Bonfá lembra que sofreu repressão até mesmo de seus pais, que o recriminaram quando a Legião Urbana deixou o palco no meio de um show catastrófico em Brasília.
Em um papo animado os músicos lembraram as boas histórias que viveram em Brasília nos anos 1980, retratadas no documentário de Vladimir Carvalho. Ele conta que, na verdade quem o pautou foi o próprio Renato Russo. "Eu li um texto onde havia uma citação do Renato Russo, ele dizendo quando perguntado porque registrava tudo: ‘pra um dia a gente contar a história do nosso grupo’", contou o diretor.
Foto: Thaiane Silveira - SRZDEle lembra também do show que o Capital Inicial fez em 2008 para um milhão de pessoas na Esplanada dos Ministérios e compara com o início da carreira do grupo "numa cidade onde eles pediam pelo amor de Deus para plugar um microfone num barzinho de esquina". "Isso é prodigioso e foi isso que me ganhou", completa o Vladmir que começou a fazer seus registros para lecionar na Universidade de Brasília, e somente dois anos e meio atrás decidiu recuperar o material para produzir o documentário.
Durante a animada conversa, Philippe Seabra, que atualmente produz bandas independentes em Brasília, ainda fala sobre as bandas atuais. "Eu vejo as coisas mais legais vindo da periferia. A libido é o mesmo, mas parece que falta um pouquinho dessa iludição (das bandas dos anos 1980). Embasamento é bagagem, e o que acontece no rock brasileiro hoje em dia é só business", diz o músico.